O ano de 2023 foi um período difícil para a siderurgia brasileira, tanto que alguns dos maiores players do setor no País reportaram resultados financeiros negativos no exercício. Especialistas esclarecem que os desempenhos foram afetados por uma série de motivos e não apenas pelas importações de aço. Na avaliação deles, o cenário não deve ser totalmente revertido neste ano.

A título de exemplo, a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) registrou, no último exercício, lucro de R$ 1,6 bilhão, o que representa queda de 22% em relação a 2022. Ao mesmo tempo, a ArcelorMittal Brasil apresentou baixa de 54,5%, com R$ 4,1 bilhões de lucro. Enquanto a Gerdau apurou lucro de R$ 6,9 bilhões, assinalando uma redução de 41% no indicador.

Para o especialista da Valor Investimentos, André Motta, a elevada importação de aço foi, de fato, o principal causador da perda de lucratividade das siderúrgicas. Isso porque não há problemas de demanda interna para justificar o aperto de margens das empresas. Vale lembrar que, no ano passado, o volume de produtos siderúrgicos importados pelo mercado brasileiro cresceu 50%.

“Com a China subsidiando o aço produzido lá, esse aço está inundando o mundo a um preço abaixo do custo de produção de vários países, o que apertou as coisas por aqui”, disse.

Ele ressalta, entretanto, que, no caso específico da Usiminas, ocorreram problemas operacionais próprios que impactaram a performance. No período, estava em andamento a reforma do alto-forno 3 da usina da companhia em Ipatinga, no Vale do Aço. O equipamento é o maior da empresa e tem capacidade de produzir cerca de três milhões de toneladas de ferro-gusa por ano.

Fatores macroeconômicos impactam

O assessor na iHUB Investimentos, Lucas Sharau, diz que não somente a perda de lucratividade, mas também de faturamento das principais siderúrgicas do País, decorreram de fatores macroeconômicos. Entre eles, estão a redução chinesa e americana da capacidade de consumo de minério de ferro, item essencial na produção de aço, além do movimento global de juros altos.

O especialista em mercados e CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, faz considerações semelhantes e afirma que é preciso levar em conta a economia da China quando se trata de aço, por ser a principal consumidora do produto. Segundo ele, existe uma sobreoferta de aço mundial com a atual fraqueza do mercado imobiliário chinês e, para não ficarem com aço parado, o país vende com margens negativas de preços para o Brasil, pressionando a siderurgia brasileira.

Cotas de importação, com taxa de 25% sobre o excedente, não devem reverter o quadro adverso

Na tentativa de reduzir o excesso de aço importado, o governo federal criou, recentemente, cotas para importação de 11 produtos siderúrgicos, com taxa de 25% sobre o excedente. A medida, que entrará em vigor a partir de 1º de junho e terá validade de 12 meses, além de beneficiar apenas parte das empresas, não deverá ser capaz de reverter o quadro de resultados financeiros adversos.

O analista da Valor Investimentos, André Motta, avalia que as tarifas não foram tão amplas quanto se esperava e não abrangem todo o setor siderúrgico como foram impostas.

O analista independente Pedro Galdi diz que as companhias continuarão prejudicadas com a nova regra. Ele lembra que a Gerdau, por exemplo, já deixou claro que o aumento da alíquota foi para uma parcela de produtos e que 2024 será mais um ano difícil para o setor no Brasil.

Na opinião do assessor na iHUB Investimentos, Lucas Sharau, a medida, a longo prazo, terá impacto sobre a inflação; no entanto, favorecerá, sim, a indústria siderúrgica nacional.

Para o especialista em mercados e CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, a medida ajudará marginalmente, mas não deve resolver todos os problemas. Conforme ele, a taxa beneficiará a Usiminas e não terá tanto efeito sobre a Gerdau, que tem uma forte produção internacional.

“O problema, na verdade, é a sobreoferta de aço que estamos passando e a única solução para isso seria ter um reaquecimento da economia chinesa, no mercado imobiliário”, analisou Paulo Cunha.

 

Saiba mais em: Diário do Comércio.

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