Projetos que podem movimentar a área estão em fase de licenciamento.
Alguns projetos em fase de licenciamento devem movimentar as relações entre Brasil e China no setor de mineração neste ano. Só nas regiões norte de Minas Gerais e sul da Bahia são esperados aportes de pelo menos US$ 3,5 bilhões de empresas chinesas. Gustavo Biscassi, diretor do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), lembra que o país asiático absorveu 64% de todo o minério de ferro exportado pelo Brasil no ano passado, com embarques que chegaram a quase US$ 20 bilhões.
De 2007 a 2022, os chineses investiram US$ 4,4 bilhões no setor de mineração, montante que, segundo Biscassi, representou 6,2% do total de aportes da China nesse período, mesmo percentual recebido pela indústria manufatureira.Esses dois segmentos ficaram em terceiro lugar na atração de investimentos chineses, atrás apenas de eletricidade e petróleo — diz.
A companhia Sul Americana de Metais (SAM), subsidiária da Honbridge Holdings, vem desenvolvendo desde 2010 um projeto de minério de ferro (Projeto Bloco 8) na região norte de Minas que vai absorver US$ 2,1 bilhões em investimentos. Quatro municípios (Grão Mogol, Padre Carvalho, Fruta de Leite e Josenópolis) serão beneficiados pelo complexo que pode gerar mais de 6 mil empregos.
A capacidade de produção anual está estimada em 27,5 milhões de toneladas de pellet feed (minério de ferro em grãos com diâmetro inferior a 1 mm) com teor de 66,5% de ferro, produto que tem significativa demanda no mercado internacional — afirma Jin Yongshi, da CEO da SAM.
Segundo o executivo, o Projeto Bloco 8 foi considerado em 2021 como “prioritário” para o país e, em 2022, foi aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM).
Os produtos dessa mina serão transportados por meio de um mineroduto de 480 quilômetros até Ilhéus (BA), de onde serão exportados para o mercado internacional, principalmente o chinês.
Se o mercado brasileiro demandar nossa produção, a empresa ficará feliz em abastecê-lo — afirma Jin.
Serviços logísticos de transporte serão terceirizados para a Lotus do Brasil Comércio e Logística, responsável pela licença, construção e operação do mineroduto que vai cruzar ao menos 20 municípios.
Nióbio e lítio
O investimento estimado no mineroduto, o Projeto Lotus I, é de aproximadamente US$ 1,4 bilhão. Henrique Carballal, presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), acrescenta que parte (US$ 800 milhões) desses aportes beneficiará a Bahia, por onde passará o mineroduto. Carballal explica que esse projeto deve alavancar investimentos em outras operações, como a produção de hidrogênio verde (H2V) com a água que empurrará os minérios pelo mineroduto. Para isso, foi assinado protocolo de entendimento entre a CBPM, a SAM e a CGN Brasil Energia.
Os projetos Bloco 8 e Lotus I estão em fase de licença prévia. Segundo Jin, duas audiências públicas do primeiro foram realizadas em maio de 2022. Agora, a SAM aguarda a discussão adicional dos estudos complementares necessários. Devido à reestruturação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad) em 2023, o processo de licenciamento atrasou. Após a concessão da licença prévia, a SAM precisará de cerca de um ano para obter a licença de instalação. Depois disso serão necessários cerca de três anos para a construção do complexo.
Biscassi,do CEBC, lembra que as empresas chinesas têm mostrado também amplo interesse em outros metais, como o nióbio.
Ainda é possível que vejamos o aumento de investimentos na exploração de lítio, utilizado na fabricação de baterias para veículos elétricos, área em que a China tem protagonismo global — diz o executivo. — Em países da América do Sul, como Chile e Argentina, que contam com vastas reservas do mineral, há diversos investimentos chineses, com presença de gigantes como Tianqi Lithium, Ganfeng Lithium e Zijin Mining Group — acrescenta.
A chinesa BYD investirá R$ 3 bilhões na instalação de três fábricas na Bahia, que incluirá ainda uma unidade de processamento de fosfato de lítio e de ferro para o mercado internacional. Além do minério de ferro, principal ingrediente do aço, do qual a China é o maior produtor global, o níquel e o cobre também têm hoje amplo mercado na China.
São dois metais essenciais para diversas tecnologias que dão suporte à transição para uma economia de baixo carbono. As baterias de alto desempenho têm teor crescente de níquel, e as indústrias de turbinas eólicas e painéis solares, essenciais para a descarbonização da produção de energia elétrica, requerem quantidades significativas de cobre — afirma Biscassi.
Na China, diz, uma nova indústria emerge.
Eles já estão liderando a transformação energética do mundo, produzindo carros elétricos, baterias e produtos de alta qualidade.

Fonte: Portão da Fundição

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