Especialistas em mineração avaliam o acordo entre Vale e Anglo American como vantajoso para ambas as empresas. Na avaliação deles, além dos benefícios mútuos, o negócio abre oportunidades para novas parcerias entre as companhias e até mesmo para uma futura fusão.

Fechado no início deste ano, o acordo recebeu a aprovação, sem restrições, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nesta terça-feira (15). Ele compreende a aquisição, por parte da mineradora brasileira, de 15% do complexo Minas-Rio – localizado na cidade de Conceição do Mato Dentro, região Central de Minas Gerais –, da mineradora britânica, que continuará na operação e receberá US$ 157,5 milhões, além dos recursos de Serra da Serpentina.

Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rubens Ifraim, especialista do mercado de mineração, a compra vai permitir à Vale diversificar seu portfólio, reduzindo a dependência de um único ativo e ampliando sua presença em regiões estratégicas.

De acordo com ele, a empresa brasileira terá acesso a recursos de minério de ferro de alta qualidade, o que pode otimizar seus processos produtivos e aumentar a competitividade no mercado internacional. Ifraim destaca que, além disso, a proximidade geográfica entre os ativos da Vale e da Anglo pode gerar sinergias operacionais, como compartilhamento de infraestrutura e otimização de logística, podendo resultar em redução de custos.

“Com essa participação maior no mercado brasileiro de minério de ferro, a Vale pode fortalecer sua posição competitiva e negociar melhores condições comerciais com seus clientes”, pontua.

Anglo American pode fortalecer sua posição no mercado do Brasil

No caso da Anglo American, o professor ressalta que a companhia continuará operando o Minas-Rio, e que o valor a ser recebido representa uma injeção de capital significativa, podendo ser usada para investimentos em outras áreas do negócio ou para reduzir sua dívida.

Ifraim também salienta que a transferência da Mina Serra da Serpentina da Vale para a Anglo pode acelerar o desenvolvimento desse ativo, ampliando a produção da empresa britânica e gerando novos fluxos de caixa. Isso porque a operação permitirá não só a ampliação da vida útil de sua operação de minério de ferro no Brasil – complexo Minas-Rio –, como também abrirá um leque de opções logísticas que permitirão dobrar a produção no ativo futuramente.

“A parceria com a Vale pode abrir novas oportunidades de negócios e fortalecer a posição da Anglo American no mercado brasileiro”, sublinha o professor da FGV.

Parceria pode ser oportunidade para a Vale

Um experiente especialista do setor mineral, que preferiu não ser identificado, tem uma opinião semelhante à de Ifraim, considerando que a Anglo American, por exemplo, terá ganhos em relação a recursos, uma vez que suas reservas atuais não são “fantásticas”, e a Vale não tinha intenção de explorar a Serra da Serpentina no curto e médio prazos.

Ele também relembra que, recentemente, a Anglo recebeu uma proposta de aquisição da BHP, mas o negócio não foi fechado e que esse acordo pode representar uma “sementinha” para a Vale, ou seja, uma possibilidade para um futuro negócio desse tipo entre as mineradoras.

Já o professor titular do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Roberto Galéry, reitera que a movimentação de preços do minério de ferro, influenciada pela “manipulação” da China, pode ter motivado a parceria. Conforme ele, o negócio entre as mineradoras visa estabilizar e fortalecer os preços internos da commodity.

Procurada, a Anglo disse que o acordo com a Vale está avançando conforme planejado e a aprovação do Cade é um marco importante para o fechamento da transação, que deve acontecer até o final do ano. Já a Vale disse que a conclusão da transação está sujeita às aprovações corporativas e regulatórias usuais, e que espera que seja concluída no último trimestre.

 

 

 

Fonte: Diário do Comércio.

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