Atônito com as tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira (9), o setor industrial de Minas Gerais espera que o governo brasileiro encontre rapidamente uma solução diplomática para o impasse e evite uma retaliação comercial aos produtos americanos. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) entende que o tarifaço trumpista foi uma reação principalmente à última Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro.
Uma sobretaxa elevada aplicada aos produtos importados dos Estados Unidos pode ser mais prejudicial à economia brasileira, aponta o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (10). “Uma reciprocidade por parte do Brasil com certeza traria o impacto inflacionário, já que as importações americanas são relevantes para vários segmentos brasileiros e, sim, teriam seus custos aumentados internamente”, declarou.
Já o tarifaço de Trump pode gerar um efeito contrário na inflação brasileira, afirma Roscoe, já que as tarifas devem inviabilizar exportações e causar sobreoferta de determinados produtos no mercado interno. O líder empresarial reivindica que o Brasil encontre uma solução diplomática para uma reaproximação comercial do País com o mercado dos EUA.
Apesar do mandatário norte-americano citar, explicitamente, o processo judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de tentativa de golpe de estado, como justificativa ao tarifaço, o presidente da Fiemg acredita que a verdadeira motivação da reação trumpista foram as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Cúpula dos líderes do Brics, realizada recentemente no Rio de Janeiro.
Disputa global
Declarações como as do líder brasileiro, pontua, expõem países como o Brasil às reações negativas de Estados Unidos e China, em meio a uma disputa entre as duas maiores economias do mundo pela hegemonia no cenário internacional.
“De certa maneira, (o Brasil) se posicionou ali em algumas situações como um contraponto a essa hegemonia americana. Aparentemente, foi o que aconteceu aqui na Cúpula do Brics, mas são declarações que podem ser facilmente – na minha leitura – corrigidas ou feitas releituras, e é exatamente isso que a gente vem defendendo, uma sinalização de diálogo”, disse Roscoe.
O presidente da Fiemg aponta a siderurgia como o segmento industrial mais afetado em Minas Gerais pelo novo tarifaço de Trump. Outros produtos com exportações relevantes para os Estados Unidos, como o café, deverão ser afetados em um primeiro momento, mas, no caso de uma commodity como essa, as perdas não devem ser tão relevantes.
Diferentemente dos produtos industrializados, de maior valor agregado, o executivo afirma que as commodities conseguem encontrar novos mercados com mais facilidade.
ACMinas pede resposta ao tarifaço de Trump
A Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas) declarou ter “grande preocupação” com as novas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos. Segundo a entidade, o novo tarifaço afeta diretamente a indústria nacional e “mina a confiança nas relações comerciais entre os dois países”.
“A decisão unilateral dos Estados Unidos impõe barreiras injustificadas a produtos brasileiros, prejudicando setores estratégicos da nossa economia, em especial a indústria de base”, disse o presidente da ACMinas, Cledorvino Belini. “Trata-se de um movimento que enfraquece o espírito de cooperação internacional e afeta empregos, investimentos e a competitividade de nossas exportações”, completa.
A associação destacou que o Brasil é um parceiro histórico dos EUA no comércio internacional e sempre teve uma atuação por uma diplomacia econômica aberta, baseada no diálogo e no equilíbrio entre as nações. “Impor tarifas sem negociação prévia quebra esse entendimento e causa instabilidade nos fluxos comerciais”, declarou a entidade em nota.
Além de uma resposta firme e diplomática do governo brasileiro, por meio dos ministérios das Relações Exteriores (MRE) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), para reverter a medida e preservar os interesses da indústria nacional, a ACMinas também destaca que o episódio reforça a necessidade de diversificar mercados de exportação e fortalecer a diplomacia comercial brasileira.
Fonte: Diário do Comércio.