A siderurgia brasileira está chegando ao limite e, caso a utilização da capacidade das usinas diminua ainda mais, o negócio poderá se tornar inviável. O alerta foi feito durante a solenidade de abertura do Congresso Aço Brasil, nesta terça-feira (26), em São Paulo, pelo presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, André B. Gerdau Johannpeter, que também preside o Conselho de Administração da Gerdau.

Conforme o executivo, o setor tem sofrido, há tempos, principalmente com as importações de aço. Nos dois últimos anos, os desembarques bateram recordes, e existe risco iminente de um novo volume histórico neste ano. De acordo com ele, as siderúrgicas não conseguem competir com os produtos subsidiados pelo governo chinês.
Dados da entidade mostram que, entre janeiro e julho, foram importadas 4,1 milhões de toneladas, alta anual de 24,4% – a China respondeu por 62,3% do volume. Já a participação do aço estrangeiro no consumo nacional avançou 4,8 pontos percentuais, para 22,9%.
Nível de ociosidade preocupa o setor
“Estamos operando com uma ociosidade de 35%, muito alta para um negócio que têm capital intensivo e investimentos de longo prazo. Precisamos operar, no mínimo, com 80% a 85% da capacidade. O setor tem sido prejudicado pelas importações”, afirmou.
“Além disso, enfrentamos o desafio do crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] do Brasil, dos juros e dos impostos, que temos que pagar cada vez mais. A situação realmente está chegando a um ponto muito difícil para o setor”, enfatizou, ressaltando ainda os impactos da guerra tarifária dos Estados Unidos, que afeta as exportações brasileiras para o mercado norte-americano e provoca desvio de comércio de outros países para o Brasil.
Postos de trabalho ameaçados na siderurgia
Ao advertir sobre os efeitos negativos das importações, o presidente do conselho do Aço Brasil salientou que postos de trabalho estão ameaçados. Para Johannpeter, o setor siderúrgico necessita de uma defesa comercial mais forte para mitigar os problemas.
“Estamos trabalhando com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços desde junho do ano passado. Há um sistema de cota-tarifa que ajudou, mas não resolveu o problema, porque as importações continuam crescendo. Mas preciso fazer o reconhecimento, porque estamos tentando”, pontuou, ao agradecer o esforço do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSD), na busca de uma solução para a siderurgia nacional.
Ausência de representantes do governo e homenagem a Sérgio Leite de Andrade
Apesar da menção de Johannpeter a Alckmin, o vice-presidente não participou da abertura do congresso, assim como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Os três haviam sido convidados para a cerimônia, mas se ausentaram em razão de uma reunião ministerial no Palácio do Planalto, em Brasília.
Antes de iniciar seu discurso, o presidente do Conselho do Aço Brasil prestou uma homenagem a Sérgio Leite de Andrade. O executivo, que ocupava o cargo e faleceu em 14 de julho, dedicou-se ao setor siderúrgico por quase meio século.
(*) O repórter viajou a convite do Instituto Aço Brasil