A demanda do Arranjo Produtivo Local (APL) Metalmecânico da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) caiu pela metade no acumulado deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Sindicato Intermunicipal das Indústrias e de Material Elétrico do Vale do Aço (Sindimiva). O polo tem encontrado diversos desafios no cenário nacional e no comércio exterior que dificultam o desempenho das empresas.
A expectativa do polo agora é com a entrada de pedidos no segundo semestre, para manter a previsão de crescimento de 3% em 2025, desempenho semelhante ao observado em 2024.
A manutenção de uma taxa básica de juros (Selic) elevada por muito tempo, mais a perspectiva de que continuidade desse patamar nos próximos meses, faz as empresas do APL Metalmecânico revisarem os investimentos para expandir a produção, disse o vice-presidente do Sindimiva, Renato Gomes de Aquino.
Atualmente, a taxa de juros da economia está em 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006, ainda durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Os investimentos ficam paralisados. Como é que vai comprar um equipamento – o nosso setor é muito caro – com juros nessa altura? Ou tem que ter capital para comprar à vista, o que não é vantajoso”, declarou Aquino.
Ele apontou que a queda de 50% da demanda do polo foi impulsionada por uma menor demanda do principal cliente do APL do Vale do Aço, a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas). “Vamos esperar virar esse próximo mês agora para ver como é que vai ser o comportamento das empresas, que têm um ano fiscal iniciando agora em julho. Mas a gente vai ter que superar essa perda gigantesca do primeiro semestre”, disse.
Aquino afirmou que o Arranjo Produtivo Local Metalmecânico ainda não foi afetado pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo ele, o APL do Vale do Aço poderá, inclusive, se beneficiar do protecionismo comercial de Trump, já que a menor exportação de aço do Brasil para a superpotência norte-americana pode aumentar a oferta do insumo no País e, consequentemente, diminuir seu preço no mercado nacional.
O grande desafio do comércio global para o Polo Metalmecânico, considerado pelo presidente do Sindimiva, continua sendo a importação de aço da China. A entrada do insumo produzido no gigante asiático também contribui para uma menor demanda do APL no Vale do Aço. “Isso atrapalha, porque as empresas daqui não investem para serem mais competitivas, porque o aço (chinês) vem bem mais barato. Essa política externa do Brasil é muito falha”, criticou.
Mão de obra e disputa entre rivais também desafiam Vale do Aço
Além disso, o APL do Vale do Aço tem de enfrentar a falta de mão de obra, impulsionada, segundo o presidente do Sindimiva, pelos programas de transferência de renda do governo federal, que reduzem a competitividade salarial das empresas do Polo Metalmecânico no mercado de trabalho.
Ele avaliou que o setor não consegue aumentar a oferta salarial, por não conseguir repassar esse maior custo potencial no preço dos produtos. “O cara vai entrar aqui como ajudante, vai ganhar em torno de R$ 1.600. Ele fica em casa, ganha R$ 600 do governo, faz uma mototáxi ali, ganha muito mais. Não precisa trabalhar o dia inteiro. Faz um ‘corre’ à noite no mototáxi, ele ganha mais do que trabalha aqui”, disse.
O vice-presidente do Sindimiva lamentou também que a insegurança jurídica gerada com o embate judicial entre o grupo ítalo-argentino Ternium e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) sobre a Usiminas, diminui a atratividade de investimentos na região.
A disputa acionária entre as rivais da siderurgia começou há mais de uma década e pode ter mais um passo esta semana, após o Tribunal Regional Federal da 6ª Região exigir uma manifestação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a decisão que determinava a venda dos papéis detidos pela CSN na Usiminas.
Fonte: Diário do Comércio.