Economistas apontam o desempenho econômico da China neste ano como uma das causas para a queda das exportações de minério de ferro de Minas Gerais ao país asiático, mas limitações do Estado e novos parâmetros no cenário internacional também desafiam as mineradoras instaladas em território mineiro a obterem dias melhores nos embarques.

No primeiro trimestre deste ano, o Estado exportou 28,6 milhões de toneladas (Mt) do insumo para a segunda maior economia do mundo, 11,1% a menos do que as 32,2 Mt registradas no mesmo período do ano passado. A menor quantidade de embarques mineiros do mineral para a potência asiática gerou o valor de US$ 1,9 bilhão, resultado 31,2% inferior aos US$ 2,7 bilhões recebidos nos três primeiros meses de 2024. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

Para a analista de negócios internacionais da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Veronica Winter, os números mostram não apenas um resultado da persistência da crise no setor imobiliário chinês, que reduz a demanda da China pelo minério de ferro, como também a própria desvalorização que a commodity sofre atualmente no mercado internacional.

“Teve redução no valor, mas no volume a queda foi menor, justamente porque ainda existe a demanda do minério de ferro, não só da construção civil, mas de outros setores que a China ainda tem produção relevante. Mas a questão do valor do minério também foi impactante para essa redução percentual maior no valor de exportação que em volume”, analisa.

Além da crise imobiliária, a economista do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diana Chaib, aponta que a China tem tido um menor investimento em infraestrutura pesada e dificuldades no consumo interno, agravadas por um ambiente global de juros altos e incertezas geopolíticas.

“Como o minério de ferro é altamente demandado pela indústria de construção civil e de aço, qualquer desaceleração nesses setores impacta diretamente as importações chinesas”, disse.

Ela aponta ainda que o país adotou uma estratégia de maior controle ambiental nos últimos anos, em busca de reduzir sua dependência de indústrias altamente poluentes e, gradualmente, diversificar seus fornecedores. “Isso também significa que o Brasil – e, particularmente, Minas Gerais – deixa de ter o mesmo peso de antes na balança de suprimentos chinesa”, explica Diana Chaib.

Dependência do Estado do minério de ferro e da China

Verônica Winter destaca que a China foi o destino de aproximadamente 77% das exportações de minério de ferro de Minas Gerais no primeiro trimestre, patamar bem superior aos outros clientes do Estado, como Omã e Bahrein, que receberam menos de 10% dos embarques da produção mineira no período.

Até por isso, caso perdurem as pesadas tarifas impostas pelos EUA, as mineradoras do Estado podem sofrer impactos dos efeitos na economia chinesa. “A China é nosso principal parceiro nesse produto. Então, se continuar, pode ser que tenha algum impacto, sim. Mas, por enquanto, não dá para afirmar. A gente ainda tem que aguardar”, declara a economista da Fiemg.

Diana Chaib ressalta que essa dependência gera um impacto direto no resultado das mineradoras, sobretudo a Vale, ainda que a gigante da mineração busque compensar a queda na demanda chinesa em outros mercados na Ásia. Historicamente, aponta a economista, a China responde por cerca de 50% a 60% da demanda global por minério de ferro.

Além disso, o controle de grandes players – principalmente da Vale – na infraestrutura logística do minério de ferro acentua a queda nas exportações de Minas Gerais, ao deixar a capacidade de escoamento da produção do setor à mercê dos interesses comerciais de poucas mineradoras e de praticamente um único comprador – a China.

“A queda das exportações nos lembra da urgência de diversificar a pauta produtiva do Estado, gerar valor agregado e colocar freios à lógica extrativista predatória que se impõe sobre os territórios”, argumenta a economista da UFMG.

 

 

Fonte: Diário do Comércio.

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